Série "Dos olhos que O viram" - Desenhos no chão

Olá galera! Vou compartilhar alguns dramatizações que escrevi sobre alguns acontecimentos bíblicos. Alguns tentei não citar tanto nomes de lugares nem criar nomes de pessoas para não distorcer o sentido dos textos que são apenas para ilustrar um ponto de vista, chamar sua atenção para os sentimentos daqueles que viram a Jesus Cristo fisicamente a dois milênios. A série de textos se chama "Dos olhos que O viram". Seriam os pontos de vistas daqueles que viram a Jesus. Mesmo sem eu apelar muito à liberdade poética, ressalto que se em algum ponto você não concorde com algo basta levar para a liberdade poética do texto. O sentido é você sentir um pouco desses olhos que viram à ELE em carne e osso.



Desenhos no chão

Foi uma noite maravilhosa para mim na época, o proibido realizado às escondidas. Entretanto minha ultima manhã raiava sem quem eu me preocupasse com ela, sem que a notasse. Tal manhã que prometia ser mais um turbilhão de outras novas sensações se tornou o prelúdio de meu fim. Com violência meus sentimentos se cruzavam entre o desespero e a culpa. Me debati como uma presa no matadouro, puxaram-me os cabelos e minhas roupas. Não tive tempo de vestir nada, minha leve roupa era envolvida por panos quaisquer da cama, como minha alma que se envolveu com qualquer trapo que desejei vestir.


Meus joelhos se rasgavam a cada vez que os encostava no chão, tentando livrar meus finos braços dos fortes deles. Eu sabia porque estava ali, fui pega em adultério e eram meus últimos momentos viva. Onde estava meu amante eu não sei, fui levada sozinha para o que me condenei com ele. Não saber como eu iria morrer era uma dúvida que sempre me perseguia e parecia que iria me perseguir até o momento da minha morte. Agora não como iria morrer, mas onde eu iria morar era minha dúvida. Estavam me levando para o templo, iriam me julgar lá? Matariam-me lá?


Um profeta ensinava no templo, agachado no chão e desenhando na terra, quando fui jogada contra uma parede. Rodearam o profeta e os que dele ouviam, assim como a mim. Pareciam montar um pequeno tribunal onde eu era a ré e o profeta o juiz.


Rapidamente um deles disse, como se introduzisse o julgamento:


- Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.


Não levantei minha cabeça enquanto estava no chão, encolhida, esperando tremula meu fim. Mil pensamentos de culpa e desespero rondavam minha mente para me atormentar, enquanto eu pensava que tudo aquilo era um pesadelo, que a qualquer momento eu acordaria e me veria longe daquilo tudo.


Como se estivesse em outro lugar distante, o profeta não levantou um olhar para tudo aquilo e continuou a escrever na areia para os que ainda prestavam atenção no que ele ensinava.


- E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. E você, o que diz?


Insistiam, como crianças impacientes buscavam a atenção do profeta. Reparei pelas poucas palavras que consegui compreender, pois estava muito abalada com tudo aquilo, que se tratava do nazareno que fazia milagres e falava boa palavra. Diziam ser o Filho de Deus. Escolheram justamente quem consideravam o filho do supremo Juiz para me julgar, pensei em minha mente confusa. Quanto mais meus olhos ardiam por tantas lágrimas derramadas, mais perturbavam o profeta nazareno.


De repente, o profeta parou de escrever, se apoiou para se equilibrar e levantou-se lentamente apesar de não ser velho, tinha uns trinta anos. Com os dedos sujos ainda calou todos ali só pelo fato de se levantar. Senti o quão respeitado seria aquele homem, iria dizer minha sentença? Ele seria o homem que daria a ordem para me matarem? Ele seria meu juiz naquele momento. Temi a voz daquele homem em suas primeiras silabas. E comecei a me jorrar em desespero quando ouvi o seguir da frase.


- Aquele que no meio de vocês esteja sem pecado seja o primeiro a atirar a pedra contra ela.


Não tive condição de perceber todo o sentido da frase, para mim naquele instante, eu estava sentenciada. A ordem foi dada. Esperava acuada a primeira pedra que atingiria minha perna ou meu braço, a segunda que feriria meu rosto, a terceira que quebraria minha costela ou incharia minhas costas, imaginei em um segundo cada pedra que me mataria até a última, que acertaria minha cabeça fortemente e me faria perder a consciência em meio a ossos quebrados, dores na carne e meus próprios gritos sem respostas.


Suavemente senti que não estava dolorida, os homens, um a um foram deixando o local quietos com passos sussurrados pelo peso na consciência. Os mais velhos que gritavam minha morte, ditando meus pecados naquela cama, se foram. Seguidos dos mais jovens que marcam meus braços com suas mãos perturbadoras.


Quanto ao profeta nazareno, ele estava inclinado ensinando como antes. Continuei ali abaixada chorando até que não houve mais ninguém, só o nazareno e eu. Levantei o rosto e ele estava olhando para mim, abaixei o rosto como se sentisse vergonha, não entendia, mas a vergonha agora era maior que a culpa ou o desespero de antes. Ele se levantou e se dirigiu a mim. Passo a passo aumentava meu choro. Então ele me perguntou:


- Moça, onde estão aqueles que estavam te acusando? Ninguém te condenou?


- Ninguém, Senhor. – respondi.


Seu tom de voz veio e me fez sentir bem, porém a súbita impressão que tive quando levantei a cabeça para olhá-lo me criou um último medo, vi sua mão segurando algo. É uma pedra, imaginei por impulso. Então Ele abriu a mão mostrando-a vazia e com um sorriso largo me disse:


- Nem eu te condeno; volta pra casa, e não peque mais.


As palavras de conselho se tornaram ordem. Como se a partir daquele momento eu recebesse uma nova lei em meu coração. Para sempre ficou marcada em minha memória a imagem do homem que escrevia no chão, com seu dedo na terra. No dia em que fui alvo de Seu coração sobre minha miséria. Aquela pessoa me permitiu ver meus filhos e netos nascerem. Eu soube de sua morte e sua incrível volta à vida. Ainda choro ao encontrar amigos que estiveram com ele como eu. Nunca vou saber quais os desenhos que O Messias estava desenhando no chão ensinando a todos ao redor enquanto me salvava, ensinando as pessoas que queriam ouvir Suas palavras, ensinando os homens que me acusavam e ensinando a mim. De fato morri naquele dia num canto no templo, mas renasci nas mãos vazias sem pedras daquele homem, Jesus, o desenhista da minha salvação.


Baseado na passagem de João 8:1-11


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...